Claucatua mandou, a gente faz… :D

outubro 24, 2007

Aqui vão minhas 5 dicas de leitura.  Espero que gostem dos livros tanto quanto eu… 

  

– Vinícius de Moraes. Sempre. Tudo.

“E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, “Minha namorada”, a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.”

(Preciso explicar porquê?)

–  Christian Jacq: É tudo maravilhoso, mas se você gosta do Egito Antigo, não fique sem ler Ramsés (5 volumes) e A Pedra da Luz (4 volumes).

Christian Jacq é um egiptólogo francês, e escreveu sobre o Egito Antigo de maneira romanceada. A leitura é deliciosa, e difícil de parar antes do último volume. É uma aula de história gostosa e intrigante, que deixa um gosto de quero mais.

Com vinte e seis anos, o sucessor de Sethi reinava há quatro anos e se beneficiava do amor e da admiração do seu povo. Atlético, com mais de um metro e oitenta, rosto alongado e emoldurado por uma magnífica cabeleira louro-veneziana, testa alta e desanuviada, arcadas superciliares salientes e sobrancelhas grossas, nariz longo, fino e um pouco aquilino, olhar luminoso e profundo, orelhas redondas e finamente desenhadas, lábios carnudos, queixo acentuado, Ramsés possuía uma força que alguns não hesitavam em qualificar de sobrenatural.”

in Ramsés, vol. 3, A Batalha de Kadesh

– Marion Zimmer Bradley: As Brumas de Avalon (4 volumes)

A história de Morgana, Merlim, Arthur, Guinevere, Lancelot e demais contada através da visão feminina. Imperdível!

“Morgana fala…

Em vida, chamaram-me de muitas coisas: irmã, amante, sacerdotisa, maga, rainha. Na verdade, cheguei agora a ser maga, e poderá vir um tempo  em que tais coisas  devam ser conhecidas. Verdadeiramente, porém, creio que os cristãos dirão a última palavra. O mundo das fadas afasta-se cada vez mais daquele  em que Cristo predomina. Nada tenho contra Cristo, apenas contra seus  sacerdotes, que chamam a Grande Deusa de  Demônio e  negam o seu poder  no mundo. Alegam que, no máximo, esse seu poder foi o de Satã. Ou vestem-na  com o manto azul de Nossa Senhora de Nazaré – realmente poderosa, ao seu modo – que, dizem, foi sempre virgem. Mas o que pode uma virgem saber das  mágoas e  labutas da humanidade?”

in As Brumas de Avalon, vol. 1, A Senhora da Magia

–  Franz Kafka: A Metamorfose

Nesse conto sui generis, Kafka descreve a transformação de um homem em uma barata – literalmente. Incialmente aborda a parte física da transformação, mas aos poucos aborda os aspectos psicológicos, sentimentais e sociais. É um livro fantástico, que retrata de maneira inteligente uma parte da hipocrisia humana.

Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente diante de seus olhos.”

– Pedro Bandeira: A Marca de uma Lágrima

Neste livro Pedro Bandeira consegue retratar de maneira fantástica o intrincado mundo adolescente, com seus medos e anseios.

Levemente, seus dedos tocaram a face fria do inimigo, bem na rachadura. Lentamente, seus dedos percorreram a rachadura, tateando como um cego que procura reconhecer alguém.

— Todos riem… Mas eu não queria tantos risos. Eu queria um sorriso apenas. Um só. Queria estar quieta e ver alguém aproxi­mar-se, olhando nos meus olhos… sorrindo… Eu sorriria de volta, e nada mais precisaria ser dito…

Isabel deixou as lágrimas correrem fartas pelo rosto. Foi aí que o inimigo resolveu feri-la mais fundo e cortou-lhe o dedo com a borda da rachadura. Num gesto maquinai, a menina levou o dedo à boca, chupando o ferimento. Na rachadura, no peito do inimigo, ficou uma gota de sangue.

O dedo não doía quase nada.

Era ali que doía.”
 


A minha infância querida

outubro 22, 2007

Quando meu professor de cálculo me ofereceu uma carona hoje, ao sair da faculdade (e parem de maldar que o moço é casado e com filhas moças, viu?), não imaginei que por alguns minutos iria entrar em uma viagem às lembranças musicais de minha infância…

Desde pequena ouço vários gêneros. Comecei com Beatles, que pápi era (é) fanático, passei pelo rock’n roll, jovem guarda, mpb, bossa nova. Lembro quando ficava ao lado dele no violão, ouvindo e cantarolando “When I’m Sixty Four”, “Rock and roll Lullaby”, “Blue Moon”, e váááários sucessos do cancioneiro nacional.

Mas não era simplesmente ouvir as músicas. Papai me contava as histórias por trás delas, os boatos, as verdades, as conseqüências. Fui devidamente apresentada a Chico Buarque por ele, que ia selecionando músicas, tocando, e fazendo a relação com o ano em que foram lançadas, a situação política do país na época, e o que a música significava. E assim fui crescendo, embalada por letras, melodias e histórias.

Além disso, ele gravava os especiais infantis que a Globo fazia na época. Perdi as contas de quantas vezes assisti “A Arca de Noé”, “Pirlimpimpim”, “Plunct, Plact, Zum” e tantos outros.  Pode ser somente saudosismo meu, mas acredito que ser criança na minha época ( como me sinto velha falando isso!) era mais inocente, mais gostoso e mais produtivo.  As crianças eram mais bem formadas culturalmente, tinham mais direcionamento e usavam de maneira mais diversificada sua criatividade. Ou será que esse é o mal de todas as gerações, achar que a sua sempre foi melhor?

Não sei. Talves daqui a 30 anos eu seja uma velhinha chata, reclamando do suspiro do vizinho, e repetindo incansavelmente: “porque na minha época…”